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21 de abril de 2017

Entrevista - trocando figurinhas com Gílian Demori


Preciso contar uma coisa pros meus (talvez 6) leitores: eu curto muito esta sessão de entrevistas aqui do Coisicas Artesanais. Porque é fantástico a gente poder conhecer (um pouquinho que seja) o artista por trás da obra, a pessoa por trás do artista e as histórias de vida por trás de uma inspiração... Isso, de certo modo, creio que nos une, porque revela o humano em todos nós. O começo, o medo, o tropeço, o erro... Mas também o aprendizado, o acerto, a conquista, a superação!

Hoje nossa prosa delicinha e com a maior cara de "visitinha entre comadres" é com a queridíssima Gílian Demori. Pode entrar! Fica à vontade! ;)

Coisicas Artesanais - Gílian, vou começar com a pergunta que faço a todos aqui no Coisicas, e juro que não é por falta de criatividade, mas por curiosidade mesmo: onde nasceu e em que data? 
Gílian Demori - Nasci em São Paulo, embora a maioria das pessoas pensem que eu seja gaúcha, pois além de minha mãe ser do interior do Rio Grande do Sul, moramos um tempo considerável em Porto Alegre. Ahhh sim, nasci em 6 de janeiro... O ano? Affff.... foi no século passado, pode ficar só nisso? rssssssss (1965)... 

C.A. - Que linda, nasceu no Dia de Reis! :) Tá, mas então... no século passado (ops!), na infância quais eram suas brincadeiras favoritas? 
G.D. - Menina, eu adorava brincar de bonecas. Vestia, penteava, dava banho, comidinhas...rssss... Minha irmã mais velha era a que subia em árvores e pulava muros, eu era a 'comportada' que preferia ficar em casa brincando com as bonecas, mesmo...rsss

C.A. - E, entre essas brincadeiras da infância, vc identifica alguma que fosse já um "sinal" da importância que o artesanato passaria a representar na tua vida? Eu, por exemplo, adorava assistir ao programa "mãos mágicas" num canal de televisão. 
G.D. - Menina, que programa é esse?? 

C.A. - Ih, deixa pra lá... Era um programa do século passado... ;)
G.D. - Rsssss... Eu adorava assistir a desenhos animados, mas em relação ao artesanato acho que meus indícios mais remotos e incipientes dizem respeito às bonecas de papel... não é da sua época, rssss... Eram bonequinhas (de papel, claro) que vinham em uma espécie de livrinho ou em uma folha só, já não lembro, e você recortava e ela vinha com vestidinhos para 'trocar' e às vezes algum acessório. Então eu pegava as revistas Cláudia ou Manchete que apareciam em casa e, quando havia algum editorial ou propaganda em que aparecesse uma mulher com um vestido com estampa bonita, eu tentava encaixar algum dos vestidinhos que já vinham junto com a boneca, passava um risco com lápis para marcar e recortava, aumentando assim o 'guarda-roupas' fashion da minha bonequinha...rssss. O bom delas é que dava para fazer dezenas de vestidos novos, o ruim é que, sendo de papel, as bonecas não sobreviviam por muito tempo...rssss

C.A. - Menina, mas é claro que eu me lembro das bonequinhas de papel! Também brinquei com elas! (Aff, assim você me obriga a deixar indícios fortíssimos de que eu também sou do século passado! rs)... Tá... "mas hein"... e quando criança você sonhava em "ser o quê" quando crescesse? 
G.D. - Acho que quando era beeem pequena eu sonhava em ser dona de casa (pense que criatura mais sossegada eu era...rsss) .... depois me imaginava professora primária (fiz magistério, inclusive, no mais tradicional colégio de freiras de Porto Alegre, à época...rsss) e mais tarde, já no fim da adolescência, comissária de bordo, profissão que posteriormente eu exerci por 16 anos, até que a empresa foi 'saída' do mercado, no ano de 2006...

C.A. - E você é formada em História, certo? Vc vê, de algum modo, alguma influência dessa formação no teu trabalho manual hoje ou acha que isso ficou lá pra trás? Concorda que é possível viver muitas vidas numa vida? 
G.D. -  Opa, com certeza! Eu inclusive queria ter vivido muito mais vidas nessa daqui...rssss. Sim, sim, me formei em História e agradeço meus pais que me proporcionaram poder escolher o que gostava e não precisar trabalhar na ocasião. Eu acho que a formação acadêmica nessa área possivelmente apurou um pouco meu senso estético, a combinação de cores, equilíbrio de volumes. História da Arte, por 2 semestres, e posteriormente Seminário de História da Arte eram minhas disciplinas prediletas.

C.A. - Que maneiro! Creio que seriam as minhas preferidas também! ... Essas aulas te deixaram com o olhar apurado para o "belo", né? Então vem cá, antes de se dedicar ao artesanato, vc trabalhou em outras áreas? 
G.D. - Sim. Assim que me formei fui trabalhar com meu pai que tinha uma distribuidora de cosméticos em Porto Alegre. Nada a ver com o curso que acabara de concluir mas como era um negócio de família, eu acabei indo no embalo. Pouco tempo depois uma amiga me chamou para nos inscrevermos na seleção de comissários da Varig e eu, apesar de achar fascinante e sonhar com aquilo, fui absolutamente descrente de que pudesse passar. E eis que meses depois estava fazendo as malas e me mudando para São Paulo para fazer o curso de Formação de Comissários da empresa.

C.A. - Uau! Imagino a tua surpresa! Mas vc chegou a lecionar também, não? De qual atividade dessas gostava mais? 
G.D. - Ser comissária... com certeza! Cheguei a lecionar no magistério (só no estágio) e depois que me formei (numa turma de supletivo duas vezes por semana e por pouquíssimo tempo também - o salário mal dava para pagar o combustível ou ônibus, se colocasse na ponta do lápis...rsss). Mas a aviação era a minha praia. Até hoje ainda sonho (e de forma bem recorrente) que estou de uniforme e puxando minha mala por algum aeroporto qualquer...

C.A. - Nossa! Que incrível isso dos sonhos... Também pudera! Ser comissária fazia parte dos teus sonhos de menina! ... E, nessa história toda aí, em qual momento o gosto pelo artesanato apareceu? Quando passou a se dedicar ao artesanato, ainda que esporadicamente? E em que momento o artesanato deu sinais de que queria ser o protagonista na tua vida e que seria um bom e novo caminho a ser seguido? 
G.D. - Antes da empresa sair do mercado, eu já me interessava por artesanato e comprava revistas e materiais aos montes (o povo comprava um saquinho com 2 guardanapos de determinado modelo, eu, a descompensada, mesmo sem fazer quase nada, comprava logo o pacote com 20 e quando não um, 2 pacotes às vezes...rsss)

C.A. - Rsrsrs... Ai... o pior é que conheço alguém i-gaul-zi-nha!... rsrs
G.D. - E quem não? rsrs...  Bem... daí fiz um curso de decoupagem aqui perto de casa para tentar me aperfeiçoar mas achei muito fraco, faltava alguma coisa e eu não sabia o que era. Um dia, me apresentando para voar, encontrei uma amiga com uma peça belíssima nas mãos e conversando descobri que ela dava aulas de pintura country e resolvi marcar aula com ela. Foi então que eu descobri o que faltava e que no curso anterior não havia sido ensinado: sombra! Um projeto de pintura sem sombra, com decoupagem ou não, é uma imagem chapada e sem apelo. A sombra imprime volume, dimensão, eleva o trabalho a outro nível. O artesanato deu um salto em minha vida quando, fazendo parte de um grupo de artesãs no falecido Orkut, onde postávamos as peças que criávamos, do nada, uma quase desconhecida (conhecida apenas no universo virtual), me chamou para apresentar um tutorial em um programa de TV, o Sabor de Vida, na Rede Aparecida. Eu nem acreditei que pudesse ser verdade mas aceitei e depois disso vieram o segundo convite, terceiro, quinto, sétimo..., editorial em revista, patrocinadores... enfim, quando vi, o artesanato me resgatou da depressão em que a 'viuvez' da aviação me jogou e se tornou minha nova atividade profissional.

Coisicas Artesanais - entrevista com Gílian Demori
Gílian (ao fundo, atrás da bancada) na gravação do programa Ateliê na TV
























C.A. - E como foi no começo desse processo? 
G.D. - No início ele coincidiu (na verdade antecedeu um pouco apenas) com a demissão em massa, quando a empresa quebrou. Eu entrei em depressão e quase não saia da cama (e isso por 2 anos, praticamente). Até que, por insistência dessa professora, voltei aos poucos a mexer com meus materiais, criar uma peça aqui, outra ali... Por indicação de uma outra amiga passei a postá-los no Flickr, a plataforma de imagens mais conhecida na época, depois no Orkut... A seguir, abri minha loja em uma plataforma de vendas de artesanato e então veio o primeiro convite para tv, como comentei anteriormente...

C.A. - A gente sempre ouve dizer que artesanato é uma verdadeira terapia... E ele foi capaz de te tirar duma crise braba, né? Que bacana, Gílian! Agora vou te pedir pra deixar alguma dica para quem está começando no artesanato. (Sendo que... Tá, eu sei, a entrevistada aqui é vc mas... eu já quero deixar uma dica pros leitores, se você me permite: gente! Assistam aos vídeos da Gílian!!! São imperdíveis!!!)... Pronto. Gílian, alguma dica mais? ;) 
G.D. - Rsss... você é um doce, Simone. Obrigada pelo carinho e prestígio que me concede e por ter me convidado para fazer parte dessa sessão do seu blog. Um conselho que eu poderia dar é: procurem inspiração em todos os lugares possíveis. Seja em blogs, no Pinterest (a Bíblia das inspirações artesanais, hoje em dia), revistas, Youtube... procurem onde for e estejam de olhos e mente abertos o tempo todo, mas na hora de criar, acrescentem um detalhe do seu gosto, da sua experiência, do seu universo, da sua visão e percepção das coisas. É o que vai fazer seu artesanato único, é o que vai imprimir uma assinatura e fazer com que tenha reconhecimento nesse universo tão ilimitado e envolvente que é o processo de criar algo único com as próprias mãos. Simone, mais uma vez obrigada por esse convite tão gostoso, eu amei constar na sua galeria de entrevistados.

Coisicas Artesanais - entrevista com Gílian Demori
Gílian (de avental azul-jeans) entre suas pupilas após uma oficina sua no Ateliê Cantinho da Arte

Gílian, querida... obrigada eu! Tô muuuuuuito feliz com essa prosa que tivemos aqui, sem contar a gratidão por você ser essa pessoa tão generosa. Tudo de muito lindo procê e as mais belas inspirações te visitando sempre! :)

* * *

Se você ainda não leu o post que publiquei sobre o trabalho da Gílian, então dá uma olhadinha aqui, ó!

E veja aqui uma "solução" que encontrei prum trabalhinho meu a partir de uma inspiração Gilianesca ;) 

E, ainda, se te interessa ler um pouco mais a respeito da relação entre artesanato e processos de cura, leia aqui a entrevista que fiz com a terapeuta Edna Pinto Chagas, que vem nos esclarecer sobre este tema.