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29 de janeiro de 2016

Olavo Campos - arte naif de alegrar os olhos! (e uma breve entrevista)


O seu Olavo é um senhor encantador! Para além do artista ganhador de inúmeros prêmios (dos quais ele fala com alegria) e para além dos quadros belíssimos que ele pinta (e que eu tive a oportunidade de conhecer - adivinha onde? Sim... no Revelando São Paulo!), o seu Olavo é uma figura super simpática, dono de uma boa prosa e se revela um cara muito lúcido, que "manda a real" com naturalidade e sem medo de ser franco. Sua experiência de vida deve lhe ter dado essa virtude...

Seus quadros reúnem cores e formas lindíssimas, transmitindo uma sensação inevitável de alegria! Seu Olavo mescla pontinhos, bandeirinhas, florezinhas e rendas que servem como pano de fundo para os temas populares que ele desenvolve sobre material reciclado - pedaços de madeira, palets, compensados...

Festejos, casamentos, igrejinhas e praças cercadas de gente, carnavais, folias de reis, pavões e galinhas, além de santos da tradição católica que gozam de grande simpatia entre muitos brasileiros estão entre seus temas, na grande maioria das vezes, retratados sob as nuances delicadas e graciosas de uma abordagem naif. 

Coisicas Artesanais - Dois belos quadros de Olavo Campos
Dois quadros de Olavo Campos: Folia de Reis e "Cidinha" (como ele se refere à padroeira do Brasil)
Fotos: Simone dos Santos

Entre folias e Franciscos, entre pracinhas e Beneditos, entre igrejinhas e Aparecidas, o artista plástico Olavo Campos foi super gentil em conceder ao Coisicas... essa entrevista no Revelando São Paulo ocorrido em Atibaia, em janeiro de 2016

Coisicas Artesanais - Seu Olavo, onde o senhor nasceu e em qual data?
Olavo Campos - Nasci na cidade de Tietê, em 26/10/1934.

C.A. - Na infância, quais eram suas brincadeiras preferidas?
O.C. Era pega-pega, esconde-esconde, pula-sela... Bolinha de gude, bocha, pião... Essas brincadeiras assim... (risos)... Festa religiosa a gente também participava.

C.A. - E nessa época o senhor sonhava em ser o quê quando crescesse?
O.C. - Eu nem sei, viu? (risos) Eu não tinha noção do que eu queria... Eu só fui ter realmente noção depois dos 23, 24 anos... Que antes eu morava com pai, com a mãe, era mais escola, nadar no rio, roubar banana do vizinho (risos) e assim ia, viu? Não tinha muita pretensão. As coisas aconteceram naturalmente...

C.A. - E como foi que o senhor encontrou a arte?
O.C. - A arte eu comecei com 7 anos... Eu tinha um primo que era pintor, famoso, e ele me deu algumas dicas, me deu algumas telas, tintas... Que dinheiro pra isso não tinha não, viu? Sabe que é até gozado eu conversar isso aqui... Eu pegava pano de prato da minha mãe, pegava anil, pegava flor amarela, mato... pra fazer tela, pra pintar...

C.A. - Então..., tão novinho, com 7 anos de idade, o senhor já pintava!...
O.C. - Ai, eu enganava, né? Não pintava muito não... (risos)

C.A. - Ok... (risos) Então a gente pode dizer que, desde cedinho, o senhor já sabia que gostava de pintar, né?... E em qual momento da sua vida o senhor entendeu que isso poderia se tornar o seu trabalho, o seu caminho?
O.C. - Isso começou depois de 11 anos de banco... Eu trabalhava num banco. Um belo dia eu saí de férias e fui pra Caruaru, fui lá passear, levei umas peças minhas pra vender... Depois... Eu vou te dizer... Eu percebi: não quero mais trabalhar no banco! Pedi pra eles me mandarem embora, eles me mandaram... E tinha um amigo que trabalhava no banco que era primo de uma senhora ceramista do Embu* e daí ela me convidou pra vir pra Embu, e foi lá que eu comecei. Aprendi muita coisa e daí comecei.

*(Embu das Artes, cidade vizinha a São Paulo que abriga centenas de artesãos que lá vivem e/ou expõem seus trabalhos, assim como o senhor Olavo, que mora lá até hoje)

C.A. - Os primeiros trabalhos do senhor já tinham essa característica naif ? Ou o senhor foi desenvolvendo isso com o tempo?
O.C. - Não, eu nem sabia o que eu estava pintando... Eu pintava miscelânea, eu pintava qualquer coisa... flor, paisagem, montanha... Não tinha... Eu não sabia nada, a verdade é essa. Daí, com o tempo que eu estava em Embu, mais pra frente um pouquinho, a gente começa a ter outra perspectiva, daí eu comecei a ver pintura naif, e as pessoas vão te dando palpites: "faz isso, faz aquilo, tá faltando isso, tá faltando aquilo" e daí você vai pegando jeito pra coisa... Porque ninguém faz nada sozinho... Não é verdade?

C.A. - É verdade, seu Olavo, ninguém faz nada sozinho. Me parece, então, que o senhor estava no lugar certo e na hora certa! E cercado das pessoas certas (!) que te ajudaram a compreender melhor e a construir seu caminho na arte, né? É certo dizer, então, que foi desse modo que o senhor foi encontrando a sua identidade artística dentro da linguagem naif ?
O.C. - Sim, de certo modo sim, mas... Pra ser realista mesmo? Você tem que fazer aquilo que te dá dinheiro. E o que dá dinheiro é isso: o que as pessoas gostam. Eu não faço só naif, faço  também geométrico, faço acadêmico, faço outras coisas... Quando eu estava começando, na verdade, eu não pensava nem em vender. Fazia por fazer, porque eu gostava, que eu já tinha de onde tirar o meu sustento: eu trabalhava no banco, entende? 

C.A. - Seu Olavo, o senhor tem um olhar muito prático sobre esse tema, né? Com tanta clareza e tanta experiência, o que o senhor poderia dizer pr'aquelas pessoas que estão sonhando em trilhar o caminho da arte? Que dica o senhor daria pra quem está começando agora?
O.C. - Olha, como qualquer tipo de trabalho, pintura é uma prática. Se você tem um sonho na vida, gosta daquilo, não desista, não pense no dinheiro, pense no que você gosta, o dinheiro vem automaticamente.

C.A. - É consequência, né?
O.C. - É. Isso aí! (risos) 

Falou e disse, seu Olavo! 

Coisicas Artesanais - Olavo Campos no Revelando São Paulo - Atibaia - Janeiro/2016
Seu Olavo entre seus belíssimos quadros expostos no Revelando São Paulo, em janeiro de 2016, em Atibaia.
Foto: Simone dos Santos

De volta ao Rio, depois de transcrever essa entrevista, eu fiquei intrigada com uma coisa... Olavo Campos assina seus quadros como Camps. Já tinha reparado (afinal - e inclusive! - tenho um quadro dele há alguns anos aqui em casa!) mas nunca tinha parado para pensar a respeito... Haveria alguma razão para isso? A curiosidade não me deixou concluir a postagem sem antes tirar isso a limpo. Passei a mão no telefone e liguei pro seu Olavo.

C.A. - Mas-hein, seu Olavo, porque o senhor assina Camps? Tem alguma razão?
O.C. - Sim, sim. É porque meu nome é Olavo Campos... e Campos é muito comum!

Ah, tá! Agora está explicado! (E eu "pirando", pensando em mil explicações de teor numerológico, xamânico ou de superstição...)

Muito agradecida, seu Olavo, por compartilhar aqui no Coisicas... um pouquinho da tua história e do teu carisma! Estou muito feliz por isso! :)

Quem quiser conhecer um pouco mais do lindo trabalho do seu Olavo, é só acessar aqui e aqui! E quem tiver vontade de conhecê-lo pessoalmente, ele está aos domingos e feriados na famosa feira de arte e artesanato de Embu das Artes

E se você gostou dessa entrevista, aguarde... Em breve outros artistas virão ter um dedin' de prosa conosco, aqui no Coisicas Artesanais!


Coisicas Artesanais - Entrevista com Olavo Campos
Festa no arraial - óleo sobre lambri - Olavo Campos
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