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22 de novembro de 2015

Rodrigo Diniz - obras carregadas de singeleza e humanidade.


Vi o trabalho do Rodrigo Diniz pela primeira vez numa loja de artesanato brasileiro dentro de um aeroporto no Rio de Janeiro. Na ocasião, fiquei encantada com um pequeno Santo Antônio de cerâmica na primeira prateleira, praticamente junto ao chão, carregado de um simbolismo muito diferente das comuns representações de Antônio na iconografia tradicional católica (aquela com o santo de pé trazendo o menino Jesus nos braços). Aquele Antônio encontrava-se agachado, de joelhos, para ficar da altura do menino Jesus (este sim, de pé) e trazia na mão direita o tradicional ramalhete de lírios, repousando a mão esquerda sobre o ombro direito do Menino, num quase-abraço misto de ternura e reverência.

Aquela peça me tocou profundamente. Ela me trazia uma mensagem arrebatadora de humildade: não era Jesus que estava no colo do santo, sendo por ele amparado. Era o santo que se ajoelhava de encontro ao Menino!

Quanta coisa pode trazer, incutida em si, uma obra! Coisas que, nela, não necessariamente são intencionais mas que estão ali presentes para ir de encontro ao que cada um de nós carrega dentro de si: memórias, histórias ouvidas, uma pessoa querida...

Aquela postura daquele Antônio me fez lembrar um costume indígena que eu ouvi da boca de uma antiga amiga, amante e pesquisadora de músicas e culturas... Ela contou certa vez que, entre os índios de algumas etnias, os adultos sempre se ajoelham diante de um curumim quando devem lhe dizer algo e que a intenção desse gesto é fazer-se "pequeno", do tamanho da criança, para que esta receba o ensinamento (conselho ou reprimenda) de alguém que a está olhando nos olhos, de igual para igual, nunca de cima para baixo... Quanto respeito e amor, quanto ensinamento num gesto tão simples! Aquele Antônio me trouxe esta e outras reflexões...

Duas coisas me agradam em cheio nesse Antoninho do Rodrigo Diniz. E têm a ver com um certo aspecto de algumas representações populares que fogem das imagens-padrão de santos que conhecemos. A primeira coisa é mais imediata: é esse gostinho bom do inusitado, do que te surpreende e quebra a tua expectativa - e quebra junto o "molde" que serve/serviu para identificar e "enformar" Antônios, Joões, Beneditos ou Conceições...

A outra coisa que me agrada é que justamente essa ruptura do padrão iconográfico vem trazer "vida" para este Antônio (ou para o João, para o Benedito e para a Conceição que povoam o meu ou o teu imaginário). Quando um artista tira um santo do pedestal, da cruz, da posição de "pose para foto" (ou seja lá de qual outro "lugar" ou "forma" que lhe tenha sido "consagrado" ao longo de séculos de história) e o representa numa cena cotidiana, num ato comum, num momento inusitado, este artista está emprestando humanidade e vida àquela figura e, consequentemente, a está aproximando das nossas vidas.

É inegável que este doce Antônio está carregado de vida! Porque ele tem um gesto próprio, só seu. Porque ele saiu do molde onde costumam se encaixar outros Antônios e foi se ajoelhar diante do Menino-Deus... pelas mãos de Rodrigo Diniz...

coisicasartesanais.blogspot.com.br
Santo Antônio do Diniz

Não comprei a belíssima peça naquela ocasião. Além de eu estar saindo do Rio em viagem (não seria prático, portanto, comprá-la naquele momento), quem já andou lendo postagens minhas por aqui sabe que eu tenho a adorável, venturosa e viciante mania de gostar de comprar uma peça diretamente das mãos de quem a fez (sempre que possível e quando a peça é dessas que me causam tanto impacto). Não foi diferente com a peça do Diniz.

No Santo Antônio exposto na loja havia uma etiqueta com as informações de procedência e autoria da peça, então eu não precisei pelejar muito, fazer promessa nem "simpatia" para encontrar o artista. (Não entendeu? Então, depois, dá uma olhadinha nessa história
aqui!). A etiqueta dizia pouco: "Diniz - MG". Foi o suficiente. Busquei na internet e finalmente encontrei o Rodrigo Diniz! Fiz o contato, encomendei meu Antoninho e fui buscar diretamente com ele, numa ocasião em que estive em Belo Horizonte.

Além desses Antônios cheios de ternura diante do Menino, Rodrigo faz também muitas outras figuras sacras. Nossa Senhora da Conceição, das Graças, Desatadora, Aparecida, Santa Terezinha, Santa Rita, São Judas Tadeu, São José, presépios, enfim... É santo pra atender a todo tipo de devoção! Mas ele próprio admite: seu "carro-chefe" são mesmo os Francisquinhos - lindíssimos, aliás, e que, como aquele Antoninho, saíram da forma e foram passear pelas situações mais pitorescas e humanizadoras, sentados em burricos, dando de beber a vaquinhas, brincando no balanço com passarinhos (!)... É cada uma peça mais linda e encantadora que a outra!

Rodrigo Diniz é um moço calminho e que passa uma pacatice boa no seu jeito de ser. Gostei muito de poder conhecê-lo pessoalmente, ainda que muito rapidamente num encontro marcado no Mercado Central de BH... Trata-se, sem dúvida alguma, de um artista de grandíssima sensibilidade e cujas mãos têm um dom para além do artístico: elas dão liberdade e conferem vida a suas peças, impregnadas de traços doces e gentis de humanidade! 

Encante-se com o trabalho do Diniz aqui!

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Leia aqui a entrevista que o Rodrigo Diniz concedeu ao Coisicas Artesanais!
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